16 de novembro de 2010

Um filme de Almodóvar

Cinearth apresenta:


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Espanha/2006



Direção: Pedro Almodóvar


Drama- 109 minutos


Novas mulheres à beira de um ataque de nervos são as protagonistas deste novo filme do espanhol Pedro Almodóvar. A protagonista é Raimunda, mulher em dificuldades financeiras que, para piorar, acaba se metendo numa tragédia (que não cabe revelar aqui) envolvendo a filha adolescente, e que precisa ser abafada. O cenário ganha contornos fantasmagóricos quando a mãe de Raimunda, supostamente falecida, reaparece com revelações sobre o obscuro passado familiar.

Dia 20 de novembro – 19h

LOCAL: MUSEU DA ESCOLA CATARINENSE (ANTIGA FAED), SALDANHA MARINHO,196 - CENTRO.

Entrada Gratuita

29 de outubro de 2010

Bem-Vindo



Drama que retrata de forma sensível uma história de amizade tendo como pano de fundo a imigração. O longa narra a história de Simon (Vincent Lindon) que, para impressionar e reconquistar sua mulher, se coloca em risco para ajudar secretamente um juovem refugiado curdo que deseja atravessar o Canal da Mancha a nado. mostra a relação de amizade e cumplicidade entre um professor de natação e um imigrante iraquiano curdo, Bial (Firat Ayverdi)



Diretor: Philippe Lioret

Duração: 110 minutos



Dia 6 de novembro (Sábado)- 18h30min



Local: Museu da Escola Catarinense (antiga FAED), Saldanha Marinho, 196- Centro.



Entrada franca

25 de outubro de 2010

Sobre "Corumbiara"



Exibido no sábado, dia 23 de outubro, pelo Cinearth, o filme Corumbiara feito por Vincent Carelli contou com aplausos ao final da mostra. Um dos debatedores, Henrique Finco (professor de cinema e artes na Universidade Federal de Santa Catarina) publicou um artigo na revista UFSCAR a respeito desse documentário. Segue abaixo o link do artigo.


20 de setembro de 2010

Dersu Uzala



Sinopse: Conta a história de um explorador do exército russo, que é resgatado na Sibéria por um caçador asiático, dando início a uma forte amizade. Quando o explorador decide levar o caçador para a cidade, seus costumes se confrontam de forma esmagadora com o modo de vida burocrático na cidade, fazendo-o questionar diversos padrões da sociedade. Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Aventura/Drama
Duração: 141 minutos
Direção: Akira Kurosawa


Dia 25 de Setembro (sábado) – 18h30min.


LOCAL: MUSEU DA ESCOLA CATARINENSE (ANTIGA FAED), SALDANHA MARINHO,196 - CENTRO.

Entrada Gratuita

13 de setembro de 2010

Sonhos

(Yume) de Akira Kurosawa. (Japão, 1990)

Dividido em 8 episódios, convida o espectador à uma verdadeira viagem de beleza, magia, vida, morte e esperança. Todos eles inspirados em sonhos do próprio diretor.

Drama
Duração: 119 minutos

Dia 18 de Setembro (sábado) – 18h30min.


LOCAL: MUSEU DA ESCOLA CATARINENSE (ANTIGA FAED), SALDANHA MARINHO,196 - CENTRO.



Entrada Gratuita

9 de setembro de 2010

Rapsódia em Agosto




Centenário Kurosawa
Rapsódia em Agosto (Hachi-gatsu no kyôshikyoku, Japão, 1991) de Akira Kurosawa

Sinopse: Uma história que nos traça o panorama sobre laços familiares e os traumas provocados pela explosão da bomba atômica no Japão durante a II Grande Guerra. Enquanto seus pais viajam para o Havaí, quatro jovens adolescentes vão morar temporariamente na cidade de Nagasaki na casa de sua avó Kane (Sachiko Murase). Ao visitar o monumento erguido em memória das vítimas da tragédia que se abateu sobre a cidade, os jovens ouvem a versão de sua avó sobre o ataque acontecido em agosto de 1945. Mais tarde, Clark (Richard Gere), um sobrinho americano de Kane, chega à cidade para conhecer seus parentes japoneses. Agora, os jovens têm a oportunidade de ouvir e conhecer o outro lado da história sobre a bomba atômica. Uma história marcada pela morte, dor e arrependimento.
Duração: 98 minutos

Dia de 11 de Setembro (sábado) – 18h30min.

LOCAL: MUSEU DA ESCOLA CATARINENSE (ANTIGA FAED), SALDANHA MARINHO,196 - CENTRO.

Entrada Gratuita


25 de agosto de 2010

Filhos de Hiroshima


Filhos de Hiroshima (Gembaku no ko), de Kaneto Shindô (Japão, 1952)



Obra-prima do cinema japonês. Um dos mais belos filmes já realizados na história do cinema, conta a vida de pessoas simples depois do horror da Segunda Guerra em Hiroshima.

Duração: 97 min.
Classificação: 12 anos

Dia 28 de agosto (sábado) – 18:30 h.


LOCAL: MUSEU DA ESCOLA CATARINENSE (ANTIGA FAED), SALDANHA MARINHO,196 - CENTRO.

Entrada Gratuita

21 de junho de 2010

CHE parte 2 - A GUERRILHA



Apresenta:

CHE
Segunda parte
A GUERRILHA


CHE-2008- Steven Soderbergh
130 minutos
Sinopse: Após a Revolução Cubana, Che está no auge de sua fama e poder. Então ele desapareceu, ressurgindo incógnito na Bolívia, onde organiza um pequeno grupo de camaradas cubanos e recrutas bolivianos para começar a grande revolução latino-americana.
Classificação:12 anos

Dia 26 de junho (sábado) – 18:30 h.

LOCAL: MUSEU DA ESCOLA CATARINENSE(ANTIGA FAED), SALDANHA MARINHO,196 - CENTRO.

Entrada Gratuita

3 de maio de 2010

Cinearth-BlocoII: La verdad duele, pero cura.

Cinearth apresenta: Ciclo de Filmes: Bloco II: La verdad duele, pero cura.

(Chove sobre Santiago 1976- França/Bulgaria)

Direção de Helvio Soto, 1975

Chove sobre Santiago (Il Pleut sur Santiago). Filme sobre o golpe militar no Chile em 1973. França/Bulgária, 110 min. Elenco: Jean-Louis Trintignant, Annie Girardot, John Abgey, Bibi Andersson. Rodado na Bulgária, onde o diretor esteve exilado à época. O filme retrata a preparação e o momento do golpe, quando o governo de Salvador Allende, estando isolado na área militar, é derrubado. Música de Astor Piazolla.
Classificação: 12 anos

Sábado - 08 de maio – 18:30h
Museu da escola Catarinense (antiga FAED)
Rua Saldanha Marinho, 196
Entrada Franca

5 de abril de 2010

Cinearth apresenta:
Ciclo de Filmes: As Ditaduras dos anos 70: olhares infantis

Kamchatka

Kamchatka (Kamchatka, Argentina, 2002)




De Marcelo Piñeyro
105 minutos
Harry (Matías Del Pozo) tem 10 anos e tem uma vida normal para qualquer criança de sua idade na década de 70.
Porém, quando seus pais começam a ser perseguidos pela ditadura argentina ele e sua família são obrigados a largar
todos os seus bens e fugir para uma fazenda.
Classificação: Livre
Sábado - 10 de Abril – 19:00h
Museu da Escola Catarinense (antiga FAED)
R. Saldanha Marinho, 196, Centro.
ENTRADA FRANCA

29 de março de 2010

“O desafio de deformar - ou, de como tornar porosa a blindagem”

“O desafio de deformar -
ou, de como tornar porosa a blindagem”[1]

Ana Maria Hoepers Preve[2]

Ajuda-me a olhar: estranha educação
Começo agradecendo a Susi do Projeto Cinearth pela lembrança no convite para debater “Os educadores”, filme de nome bastante significativo para os professores ou para aqueles que, de alguma forma, trabalham com educação ou por ela manifestam interesse.
O título nos provoca. No entanto, a primeira coisa que pode vir à superfície, logo após o término do filme é: como chamar de educadores esses jovens que reúnem características para serem chamados de bandidos, marginais, desocupados...? Jovens que invadem a propriedade privada sem autorização, usam a casa dos outros, abrem geladeiras, desorganizam os móveis, usam ferramentas de bandidos, roupas, capuz, chaves, luvas, lanternas, plantas baixas, entram à noite em casas que não são as suas, desativam sistemas de segurança e entram. Tudo leva a crer que sejam bandidos cuja saída para tais atos é a polícia.
O jornal espanhol se refere a eles de um modo interessante: uma estranha educação. Proponho que a gente pense essa noção de estranha educação, que me parece boa.
Só que esses estranhos educadores diferem numa coisa: eles não roubam nada. A estratégia dos estranhos educadores consiste em desorganizar uma casa, tirar os móveis do seu lugar e deixar uma mensagem que ponha em questão o modo de vida inquestionável do mundo capitalista, como por exemplo, podem-se ter três carros, várias casas, um iate, um lago particular e tudo isso ser normal, enquanto outros ganham um real/dia. E não pense que inventei esse dado, isso é real. Existem pessoas que ganham um real por dia de trabalho, o filme fala em um euro/dia.
No Livro dos abraços de Eduardo Galeano há um trecho curto sobre a função da arte, chamado “A função da arte (1)” e que uso para pensarmos a função dos “educadores” ou dos “estranhos educadores”:

Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, o levou para que descobrisse o mar. Viajaram para o sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: Me ajuda a olhar!

Gostaria que retivéssemos as expressões: estranhos educadores e me ajuda a olhar.


O filme

Falo então do que me toca e só falo quando me toca. Tocar significa ser afetado por alguma coisa, neste caso ser afetado pelo filme. Ser afetado não quer dizer que o filme é bom. Ser afetado é ser mobilizado. Quando o somos é importante perseguir estas mobilizações. Como sou afetada por “educadores”? O diretor Hans Weingartner é jovem. Este é um filme sobre juventude, a câmera em movimento dá esse despojamento do movimento da juventude, a música é música que a juventude ouve, Hallelujah na voz de Jeff Buckley (um super jovem cantor já morto). Todos esses detalhes foram pensados pelo diretor pra dar esse clima de movimento, de velocidade, típico da juventude.
Hans Weingartner diz em uma entrevista que nunca achou um movimento de juventude em que ele pudesse se engajar. Diz ele: “eu não tinha um conceito de um mundo melhor, eu só sábia que algo estava errado.” Conclui a entrevista dizendo que este filme é pra ser visto como fonte de inspiração e não um manipulador de platéia. As palavras de Hans nos dão pistas para pensarmos educação e juventude porque isso que assistimos no filme não deve servir de modelo, antes como fonte de inspiração. Cabe a cada um inventar uma educação e uma juventude. Parece-me ser essa a atmosfera da juventude no filme: a capacidade de invenção que tenha o frescor de algo que nasce como novo, que nasce de quem desconfia de que algo não vai bem. Não precisamos de mais modelos porque temos a disposição a nossa volta milhares de propostas de educação, modelos a seguir, assim como modelos do que é ser jovem hoje. Basta comprar ou adotar e seguir repetindo o que já está pronto. Só que isso não é o novo, não é invenção, portanto isso não tem a ver com uma juventude, antes com uma velhice (velhice não tem a ver com idade), com algo paralisado. O filme trata de invenção e se aquilo é uma invenção, pra nos servir de fonte de inspiração, nos cabe então pensar a invenção de uma juventude e de uma educação, e, encarecidamente, pedí-las que não se tornem modelos.
É contra o modelo que o filme se apresenta. Guattari diz assim: “É desde a infância que se instaura a máquina de produção de subjetividade capitalística, desde a entrada da criança no mundo das línguas dominantes, com todos os modelos tanto imaginários quanto técnicos nos quais ela deve se inserir.”[3]
O que aparece em Edukators não é uma desarrumação ou bagunça qualquer. Os soldados de porcelana foram cuidadosamente depositados na privada, o busto clássico pendurado no lustro no centro da sala, como se fora enforcado, fotografias não estão a toa na geladeira, assim como aparelhos de som, esculturas de cadeiras montadas no centro das enormes salas de estar e jantar formando monumentos, sofás na piscina como um extravaso de raiva. E, por último e super importante, um bilhete, o bilhete dos educadores: “seus dias de fartura estão contados.”
Nas ruas o movimento dos anticapitalistas esclarecendo a população das muitas crianças empregadas em trabalho escravo nas Filipinas para usarmos um tênis de marca. O filme começa mexendo nesses disparates entre uns e outros.
“Você se mata de trabalhar para um andar de Mercedes”. Para o milionário um carro Mercedes é quase nada, mixaria, e para a menina Jules é a vida tomada para dar conta de pagar a Mercedes. Isso não é uma desproporção? “Isso é justiça, você bancar o estilo de vida do outro?” Mas Jule está convencida de que é, realmente, um direito dele. Dá pra se perguntar: o que é mesmo direito, justiça, moral...?
Jan diz: “mande essa moral à merda! Destruir a sua vida é que é imoral”. Jan fala que é necessário primeiro: reconhecer as injustiças, depois agir e aí dar o primeiro passo, mas quão difícil fazer isso! Jule está passiva, aceitando sua dívida e se remoendo por isso. Jan a faz olhar de fora. Ele está provocando um estranhamento da situação dela ter que pagar a Mercedes. Jan traz o desassossego e a inquietação a Jule. (Bonito isso, coisas dos estranhos educadores, da estranha educação. Uma pista para nós educadores?) É como se ele dissesse; pense no que está acontecendo com você, agora.
E Jule diz: “Tudo o que eu queria era ser livre”. E Jan a responde “É o que meio mundo quer, mas acabamos desistindo.”
O que nos faz desistir?

Edukators é um filme simples porque é simples os três personagens fazem. Eles movem um pouco as coisas do lugar e isso já é importante. Eles não roubam os bens dos milionários, roubam uma certa tranquilidade que parecia estar garantida pelas câmeras dos sistemas de segurança de suas casas e carros.
Após o jantar Jule convida Jan a fumar: “Drogas sufocam a energia revolucionária dos jovens”. A gente pode se perguntar com eles: quais drogas fazem isso? O que é mesmo droga? Não inventamos mais nada. Tudo está constituído de modo a manter as coisas do jeito que estão, ou seja, no seu lugar. Manter o casamento, a família, o dinheiro, a concentração de renda, um tipo de educação, um tipo de laser...
E as invenções não são algo de outro mundo elas podem cruzar essa sociedade. Não é preciso que ela acabe para sermos outra coisa, vivermos outras coisas, experimentarmos outras coisas... Jan está falando, quando se refere as drogas, de algo muito maior: DAQUILO QUE NOS PARALISA. “as drogas que o nosso corpo produz não são más, são ótimas aliás.” São as nossas emoções que as produzem. As adrenalinas, endorfinas, serotoninas, dopaminas, os hormônios ligados a nossa felicidade quando amamos (“e essa é uma droga pesada”).
Podemos pensar nas tantas coisas que somos quase obrigados a tomar para não sentirmos mais os efeitos das drogas produzidas pelo nosso corpo, isto é, das variações delas em nós. Qualquer fala num consultório médico pode encaminhar ao consumo de uma droga. Os antidepressivos, ansiolíticos, as fluoxetinas, sertralinas, etc e etc, os remédios para controle das nossas emoções. Seriam estratégias para sufocar nossa energia revolucionária? Pra domesticar nossas forças no sentido de produzir, como Foucault escreveu, corpos economicamente úteis e politicamente dóceis. E a gente pode perguntar ainda sufocar, domesticar pra manter o quê mesmo? E evitar o quê?

Rogério Nascimento no texto “Tomando conta da própria vida”[4] escreve:

Vale lembrar que a sofisticação tecnológica tem transformado radicalmente as atividades produtivas de maneira a exigir cada vez menos, em largos setores da produção, um bom desempenho físico do trabalhador. Atualmente o homem tipo bovino de que tratou Taylor (1970, Princípios de administração científica) não possui mais tanto relação com força muscular e aptidão física para grandes esforços. Relaciona-se, cada vez mais, a comportamento social: ser manso, pacato, produtivo, vivente de rebanho... esperançoso.

“O medo é uma droga incrível. Não se deixar controlar pelo medo e usá-lo como motor requer prática.” Posso pensar que o que me aprisiona pode me liberar. Vivendo o medo posso gestar/construir/tramar outra coisa para minha vida e não paralisar. Se superarmos as nossas limitações somos capazes de tudo, é o que diz o filme. Mas a gente nem sabe do que é capaz. São tantas coisas controlando nossas variações de emoções que sabemos muito pouco do que podemos, do que somos capazes. Triste. Esquecemos, ou melhor, nunca pensamos “todo coração é uma célula revolucionária”.
Outra coisa que chama atenção no filme é que Jule convivia com os dois rapazes, mas só um consegue fazê-la pensar na sua vida. Nesse sentido, onde só alguns conseguem nos tocar, nos fazer pensar, a gente pode atentar para a luz que ilumina estas cenas. Cenas entre Jule e Jan. Luz aconchegante, tipo luz de abajur, de intimidade e parece ser por aí que a gente encontra o outro, toca-o, atinge-o. Há a cena em que eles estão no alto de um edifício, no meio da cidade e, mesmo assim, há uma luz super aconchegante, dando intimidade a cena em meio a cidade barulhenta (aquilo tudo que eles vivem é atravessado pela cidade). Parece ser nessa intimidade, nesse encontro suave a afetivo de um com o outro que se consegue desmontar as crenças cristalizadas dentro da gente, que são imensas: crença no direito, na justiça, no bem (de que o bem sempre é bom) etc...
Jan tem essa empatia, ele tem afetividade ao andar por esse mundo... já fez isso com o velhinho que estava sendo expulso do ônibus no começo do filme, lembam dessa cena? Mas, o que é ser afetivo? Eu não sei! Penso que isso faz parte das buscas de cada um... não há um modo de ser afetivo, mas pistas de como se pode atingir o outro.
“O mesmo se passa com as revoluções pessoais. O que dá certo, o que sobrevive em nós nos torna mais fortes.” Pergunta-se sobre quantas horas passa-se em frente a TV? Quatro. A TV como droga que paralisa as energias revolucionárias dos jovens.
Ao longo do filme o milionário nos convence de que está mudando. Fui aos poucos me convencendo disso. Ao final ele mesmo vai com a polícia até a casa dos meninos, aliás uma polícia super equipada. O milionário volta para o seu mundo... e ele se encaixa como uma luva naquele modelo. O mundo dele é muito forte ao ponto de ele não se deixar transformar pelo que lhe aconteceu, está tão blindado quanto seus carros, sua casa (?). A gente fica com dúvidas se algo atingiu Hardenberg, se ele foi contaminado pela experiência de alguns dias com os três estranhos educadores. Sabemos, e isso o filme deixa bem claro, que não houve transformação. Deformação?
Um filme que trata de liberdade... pequenos espaços de liberdade que se gestam em nossas vidas a partir das insatisfações que vamos sentindo e da capacidade que temos, ainda, para prestar atenção ao que nos incomoda, ao que nos acontece. Eu diria que são invenções intensivas como estas que são capazes de alguma revolução no presente... uma revolução molecular. Ou seja, revolução na nossa própria vida, nos pedaços da gente ... viver diferentemente situações das nossas vidas. Mudar alguma coisa de lugar e com isso abalar algum pilar. Mas é preciso abrir espaços para poder escapar a estas blindagens.
Nossos estranhos educadores são capazes, com sua invenção, seu movimento, contrário ao dos bandidos, a nos ajudar a olhar de outro modo o mundo, os acontecimentos sociais, o amor, as revoluções, as pequenas revoluções, uma invasão a propriedade privada. Quando olhamos com alguém alguma coisa sempre acabamos vendo outras, ganhamos em quantidade, em intensidade. Aprendemos mais do mundo.
Desarrumar móveis, uma casa, o modo de ler um livro, de andar pela cidade, conteúdos de um programa, avaliações, dados de uma pesquisa, relações amorosas, pode ser um bom começo de outra coisa. Invenção tem a ver com o novo e não com modelos. E o novo como nos diz Ana Godoy[5]:

Onde está o novo? perguntou a ela. O menino respondeu: está lá no silêncio, no invisível, disse outro menino. Como ele se parece? perguntou ela. Toda a sala riu e um dos meninos disse: ô professora, o novo não se parece com nada. Se ele parecesse com alguma coisa a gente já ia saber antes. Ele é outra coisa daquilo que parece. A gente sente e aí, acontece.

Invenção chama por experimentação. Invenção é palavra da juventude e é essa busca que precisamos. Como Deleuze poderia dizer um devir-jovem que não está ligado a uma faixa etária e transcende as idéias de busca pela eterna juventude com hormônios, cirurgias plásticas e modeladoras, comprimidos... Uma certa juventude tem a ver com um frescor.... uma capacidade inventiva, com um se arriscar ao novo.
Um devir-jovem seria uma saída das redundâncias dominantes oferecidas à juventude em termos de comportamento, de vestimentos, de padrões corporais... um devir-jovem tem a ver com estar sempre em busca e não com o ficar paralisados, esperando. Esperando que algo aconteça e o mundo mude.
Pra terminar vou utilizar palavras de Alexandre de Oliveira Henz durante uma palestra na mostra “Cinema, jovens e transgressão”, na PUC-SP, se não estou enganada em 2006. Ele falava sobre o fato de ter jovens em todos os filmes selecionados para aquela mostra e do quanto isso não garante a possibilidade de uma configuração nova e criadora.

Em alguma medida, e em muitas situações, a juventude pode trazer os sintomas mais crus de uma microfascistização da cultura. (...) Para muitos que chegam às universidades não é uma questão de formação, não se trata apenas de cuidado com sua formação, freqüentemente já chegam aos cursos de graduação demasiadamente formados. Muito jovens e blindados, com cacoetes dinossáuricos, com certezas fascistizadas. A questão não é apenas da juventude, em alguma medida, trata-se do desafio de deformar, de abrir espaço na fôrma, tornar porosa a blindagem a que todos – não só os jovens – estamos submetidos”.[6]

E, ao final, eles nos surpreendem com a invenção de uma saída: escapam da polícia e, no mar, na sua imensidão, se lançam no iate de Hardenberg para desativar os satélites de TV da Europa. Um final que alimenta incógnitas sobre a frase na parede deixada aos policiais: algumas pessoas nunca mudam... outras deformam-se.

Super obrigada pela escuta,

Ana, em 26 de setembro de 2009.
[1] Boa parte das observações que levanto a respeito de Edukators foram traçadas na companhia de Fábio B. Medeiros, amigo que me ajudou a novamente olhar (o filme). Título inspirado no texto de Alexandre de Oliveira Henz; ver nota de rodapé no. 6. Esse ensaio em breve comporá um texto maior sobre educação e juventude, por ora ensaia-se livremente.
[2] Professora do Departamento de Geografia da FAED/UDESC; doutoranda no Programa de Pós Graduação em Educação da Faculdade de Educação/UNICAMP.
[3] Guattari, Félix e Suely Rolnik. Micropolítica: cartografias do desejo. São Paulo: Vozes, 1999, p. 40.
[4] In Preve, Ana Maria e Corrêa, Guilherme. Ambientes da ecologia: perspectivas em política e educação. Santa Maria: Ed. Da UFSM, 2007, p. 95.
[5] Como entrar nas palavras, nas cores, nos sons ou nas pedras: uma experimentação. Grupo Transversal/FE/UNICAMP, 2008. (artigo elaborado como parte dos estudos de pós-doutorado realizado na FE/UNICAMP, 2007-2009, bolsa FAPESP)
[6] Transgressões e esgotamento: aguda indiferença, suficientemente desinteressada e escrupulosa in Verve: Revista Semestral do Nu-sol – Núcleo de Sociabilidade Libertária/ Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais, PUC-SP. No. 11 (abril 2007). São Paulo: o Programa, 2007, pp. 202 – 217. Grifo meu.

3 de março de 2010

"O Céu de Suely" De Karim Aïnouz

88 minutos

Hermila (Hermila Guedes) é uma jovem de 21 anos que está de volta à sua cidade-natal, a pequena Iguatu, localizada no interior do Ceará. Ela volta juntamente com seu filho, Mateuzinho, e aguarda para daqui a algumas semanas a chegada de Mateus, pai da criança, que ficou em São Paulo para acertar assuntos pendentes. Porém o tempo passa e Mateus simplesmente desaparece. Querendo deixar o lugar de qualquer forma, Hermila tem uma idéia inusitada: rifar seu próprio corpo para conseguir dinheiro suficiente para comprar passagens de ônibus para longe e iniciar nova vida.
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27 de março (sábado) – 19:00h
Museu da Escola Catarinense (antiga FAED)
R. Saldanha Marinho, 196, Centro.
ENTRADA FRANCA
Classificação: 16 anos

"Aimée e Jaguar" De Max Färberböck


129 minutos

Berlim, 1942. Lilly Wust, 29 anos, dona de casa, mãe de quatro filhos, mulher de militar, leva uma vida igual a de milhões de outras mulheres alemãs. Seu mundo consiste em tarefas domésticas e a educação dos filhos. A perseguição aos judeus e aos opositores políticos não a incomodam. É então que conhece Felice Schragenheim, uma jovem de 21 anos. É — quase — amor à primeira vista, que leva Lilly aos limites do paraíso e do inferno. AIMÉE & JAGUAR é o codinome que escolhem para este romance proibido e quando Jaguar confessa à amante que é judia e está na clandestinidade, este segredo perigoso une ainda mais as duas mulheres.
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20 de Março (sábado) – 19:00h
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Museu da Escola Catarinense (antiga FAED)
R. Saldanha Marinho, 196, Centro.

ENTRADA FRANCA

Classificação: 14 anos

"Má Fé" De Roschdy Zem


88 minutos


Clara, judia, e Ismael, muçulmano, são um casal feliz até o dia em que ela engravida. A relação do casal passará, então, por duras provas e terá de achar seu caminho entre o peso das tradições, os reflexos identitários e outras pressões familiares.
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Dia 13 de março (sábado) – 19:00h
Museu da Escola Catarinense (antiga FAED)
R. Saldanha Marinho, 196, Centro.
ENTRADA FRANCA
Classificação : Livre

"Pelos Meus Olhos" De Icíar Bollaín e Alicia Luna



109 minutos


Pilar é uma mulher que, numa noite de inverno, foge de casa levando o filho e mais algumas poucas coisas. Ela sabe que o marido vai procurá-la e isso a deixa apavorada. Ela é tudo para ele. Ele diz, inclusive, que foi ela que lhe deu os seus olhos. A história trata de violência doméstica, mas o tema de Iciar Bollain é essa mulher que precisa recuperar seus olhos, sua identidade - e por isso ela vira guia de quadros de museu.
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6 de março (sábado) – 19:00h
Museu da Escola Catarinense (antiga FAED)
R. Saldanha Marinho, 196, Centro.

ENTRADA FRANCA
Classificação: 14 anos