3 de novembro de 2009

Ciclo de filmes "As relações do homem com a pena capital"

Por se perceber finito, o homem aguarda com ansiedade o que poderá ocorrer após a morte, e a crença na imortalidade, dada através das experiências religiosas, as quais garantem a manutenção da vida após a morte, simboliza, ao mesmo tempo, a recusa da própria destruição e o anseio pela eternidade.

Contudo, é extremamente importante perceber que o entendimento e sentido da morte não fora sempre o mesmo. Outrora, a morte não fora encarada propriamente como um problema, como o desfecho da vida de um indivíduo, mas como um processo integrado às práticas coletivas de cultos aos ancestrais, em virtude do extenso vínculo social e/ou emocional do morto para com sua respectiva comunidade; ou seja, o existir constituía-se como essencialmente relacional, pois a individualidade se encontrava envolvida pela totalidade da comunidade. Por isso, a morte não era percebida como fim, já que o morto apenas mudava de estado. Assim, apenas passava a pertencer à comunidade dos mortos, por meio de ritos adequados às ocasiões.

Atualmente, entretanto, como resultado dos processos de urbanização e industrialização, a grande cidade cosmopolita, impiedosamente, acabou por destruir os antigos laços relacionais, fragmentando as comunidades em núcleos cada vez menores, instaurando, desse modo, o extremo individualismo. O capitalismo impele ao indivíduo a máxima eficiência na produção, no consumo, corroborando para a manutenção ascendente do “progresso”. É provável que seja essa a razão do “escamoteamento” da morte por parte das sociedades contemporâneas.

A tentativa em ocultar a morte se dá por intermédio de procedimentos distintos: normalmente, em casos de doenças terminais, familiares do doente que se encontra às portas da morte, em cumplicidade com os médicos, acabam por esconder do paciente sua doença letal; crianças pouco freqüentam cemitérios ou velórios, com a justificativa destes espaços não representarem ambientes adequados à infantilidade e pureza juvenil; mortos postos dentro de caixões acolchoados, de cetim, os quais dão a impressão do falecido estar deitado, repousando, sobre uma cama confortável etc.

“Quem ensinasse os homens a morrer, os ensinaria a viver”
Michel de Montaigne.
(escritor e humanista francês)

Thiago Oliva

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Devido às inúmeras leituras e entendimentos que o homem faz da morte, a partir de suas respectivas estruturas culturais e sociais, o CineARTH os convida para assistir e debater filmes em que a pena capital se faz presente, aos sábados de novembro.

- 07.11 - "O Quarto do Filho" (2001), de Nanni Moretti
- 14.11 - "Mar Adentro" (2004), de Alejandro Amenábar
- 21.11 - "Páginas da Revolução" (1996), de Roberto Faenza
- 28.11 - "A Partida" (2008), de Yojiro Takita

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